domingo, 11 de julho de 2010

SOBREVIVENTE DO CANCRO

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Depois do cancro

Nesta minha efémera Vida, um legado fracturante me foi imposto por regras dolorosas; de ter a Morte aparecer, pronta, a triunfar ao serviço da Vida.
Os que, ainda são saudáveis, porque não interiorizam o extenuado viver, o padecer sob a rotina deste círculo de coisas, a actividade diferente, onde a escuridão, as trevas desesperadas; são um círculo terrível da Vida, do dia-a-dia, tidas por dentro das coisas que a mãe-natureza na obra sem acaso agendou: - nada sabem…

Quando se diz uma quantidade de coisas, de nova sabedoria adquirida contra a vontade, que provêm de quem as sente, as apalpa, sem beleza acomodada, de grande prejuízo, a penetrar por vontade alheia, deve-se, até mesmo conter a alma em muitas ocasiões, evitar o que se sabe dizer; é preciso restabelecer nova ordem; no gesto, na linguagem, o máximo possível, nos sabidos afectos; dirigidos a quem nos faz amar com afeição recíproca.

O medo anima-nos a alma. De tudo temos receio durante a doença sem cura certa, esta que procura deter o fluxo da Vida, por bem a conhecer; os factos loucos com disciplina de vencedor, de enxergá-los pelas biopsias, por “dentro”, no seu verdadeiro lugar de acoito, sentidas no corpo que dá guarida à alma, a fim de que entenda tudo, infelizmente sem erro, de entender; não mais ter pertença à felicidade que a aconchegava na Vida.

Deixei de duvidar, de interrogar em completude, no ponto com sinal aberto, na comparação, que disseram ser hereditária; voltando atrás no tempo, de consciência desperta, no exemplo singular de meu Pai, que teve transfiguração no pior; na sua morte que triunfou numa explosão de sofrimento, com cancro a dar pelo mesmo nome, que herdei sem ter opção para dizer não.

Que herói sou eu???
No escuro cerrado da tragédia, depois numa explosão de esperança, alegro-me muito para além do pensamento, de pela manhã me levantar, poder comer, beber, deitar-me para acordar no início de “um outro dia”, no “amanhã”, na virtude singular da bem-aventurança, no facto de o cancro, já não ser em si próprio, algo com vida a atormentar o meu espírito, de saber que detenho a “essência” , o interregno que rompeu a outra realidade.

Todos somos heróis, desde que nunca deixemos a heroicidade fugir do pensar relativo; ao sentido e ao objectivo; por habilidade sentida, de poder olhar uma e, uma outra vez mais, cada solstício, cada equinócio, de visualizar o quadrante do tempo no calendário no alcance, de cada um, por si mesmo, por conseguimento da vontade, de sentir o aprazível ar nobre da Vida a envolver-nos em cada tempo, evitando no máximo com grande força, tudo, literalmente, tudo aquilo que pode causar prejuízo à Saúde. O equilíbrio alimentar, deve existir, sempre antes que a estrutura rebente, pelo que por ele se deve começar antes de o cancro bater à porta, que entra sem licença de mais pedir.

A minha sobrevivência ao cancro atingiu o número sete, contado em tempo terráqueo, segundo o calendário Juliano.
Sobrevivi ao cancro, novo ano nasceu, hoje!!!
Disso faço fé, dou graças a Deus…

José Gonçalves