segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O SIMPLEX DA CABEÇA

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Há casos que não chegam a ser notícia, mas constituem uma lição sobre a necessidade de atrair as pessoas a qualquer processo de reformas. O que se muda à força passa sempre para pior e o que não se explica nunca se sabe onde vai parar.

Contaram-me um caso exemplar: um bracarense, informado e razoavelmente simplex, que perdera a carta de condução, dirigiu-se ao respectivo departamento público para pedir uma 2.ª via. Muniu-se dos documentos necessários e esperou longamente pela vez. Após mais de uma hora perdida, foi atendido. Azar, não adivinhou que, além da apresentação dos documentos, tinha de entregar uma fotocópia do bilhete de identidade. Perguntou se não a poderiam fazer no próprio serviço e recebeu um não. Desesperado por ter de ir fazer a fotocópia fora e voltar para o último lugar da fila de atendimento, reagiu. Pediu o livro de reclamações já conhecido como a ‘cunha dos teimosos’. No caso, não resolveu nada, mas fez explodir a contradição. Como é das normas, o funcionário pediu-lhe o bilhete de identidade para tirar uma fotocópia e juntar à queixa. O que lhe fora recusado quando pediu acabou por lhe ser solicitado quando reclamou.

Para crescer e proporcionar melhores condições de vida, Portugal necessita de um simplex nas mentalidades. Dos governantes, dos funcionários e dos utentes. E isto não se consegue com lei, nem com malabarismos políticos. Porque, com estes, todos os desastres podem acontecer.
(in http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=253793&idselect=93&idCanal=93&p=200 )