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Continua em exibição no King o documentário «Torre Bela» sobre a ocupação da herdade ribatejana em 1975. Hora e meia de diversão assegurada mas inquietante. Nunca os portugueses haviam descido tão baixo. Nunca uma revolução despertara neles de modo tão claro os piores instintos colectivos.
O líder dos ocupantes funda uma "comprativa" e tenta convencer os trabalhadores a entregarem as enxadas à "comprativa". As massas (tenras) experimentam a roupa e a cama dos patrões esbulhados, cobiçando-lhes proletariamente o modo de vida. Ainda não havia a Lux nem a Caras para invejar os ricos e famosos; a educação do povo fazia-se mais prosaicamente com a Tânia e a Gina. Um caserneiro do MFA (ver excerto abaixo) faz doutrina sobre ocupações: «Vocês têm que fazer as vossas próprias leis», diz ele aos trabalhadores, acrescentando: «Quem legaliza é o povo». E logo após, num arranco de inspiração revolucionário, resume: «Primeiro vocês ocupam; depois a lei há-de vir».
Se ao menos os ocupantes pudessem apresentar hoje a «Torre Bela, Cooperativa de Responsabilidade Limitada» como exemplo de gestão com lucro para os cooperantes e obra feita na modernização e exploração da herdade imensa, ainda se suscitaria a dúvida sobre os méritos do socialismo selvagem. Mas não. Como era de prever, a pomposa farsa extinguiu-se dois ou três anos depois num esgoto de boçalidade e demência, com a propriedade exaurida, falida, vandalizada, e os mesmos bêbados do primeiro dia.
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